Estação Libertar *****

This is a blog created to discuss urban aspects of urban life oftenly overlooked by common viewers and specialized media, bringing the outskirts to the center of our concern, at least.

Monday, July 31, 2006

Estamira e a orquestração do mundo

Estamira desemboca no lixo das misérias humanas, da mentira, da canalhice, da vergonha. Ela é contra o maltrato, o descaso, a imoralidade, a falta humildade. Vive do lixo das almas, do lixo que não é de resto, mas do descaso, como ela diz. Do que as pessoas têm para cuidar, mas deixam ir.

O filme de Marcos Prado, premiado em diversos festivais de cinema, arremessa-nos aos delírios de consciência de Estamira, uma catadora de lixo iluminada com idéias e conceitos próprios, desencadeados por sofrimentos de sua vida acumulados. Mas o filme brilha pela intensidade dos depoimentos, pela captação das imagens, pelos recursos que trazem uma image granulada e dolorida, pela trilha sonora profundamente conectada com o sentimento de cada imagem, mas sobretudo pelo sentimento que o filme provoca em cada espectador. E é esse sentimento que merece ser vivido, pois cada um experimentará uma reação diferente à esta provocação.O mundo pára para ser orquestrado por Estamira, esta bruxa que não é perversa, mas pode ser má, justamente quando se preocupa em vestir seus companheiros pois a chuva se aproxima. E o vento que chega para varrer o chão levanta todos os lixos leves, que voam em cores e despregam desgovernados dos montes de lixo, e a chuva vem para diluir aquela atmosfera, inundar as superfícies, derreter numa só forma aquela degradação horrenda. E Estamira explica o chorume, do que é feito. Mais adiante, ela diz: "A vida é dura". Ela é, mas muito mais para uns do que para outros.

Suas expressões são conceitos recorrentes, ela é contra o trocadilho, aquelas situações trocadas, a realização em uma palavra da injustiça, ela define a mãe como o homem par e o homem como homem ímpar, para mim ela é dor pura do excesso de consciência de que tudo está errado e de que, por isso, não poderia haver Deus.

Seu rival é poderoso, seu rival foi potencializado por seu ex-marido, mas seu rival é ainda mais poderoso e mesmo com esta carne velha, esta camisa sanguínea, ela ainda dá conta de enfrentá-lo. E ela é contra a imoralidade, contra o descaso, o maltrato, a falta de humildade. Ela não é contra Deus, é contra os seres humanos que inventaram um Deus para poderem justificar sua maldade.

E a maldade está no filme em tantas formas, no que fizeram com ela, prostituindo-a, traindo-a, estuprando-a, drogando-a, não dando outra opção que não a de tirar seu sustento do lixão de Gramacho, criar seus filhos no lixão, mas também a maldade está no lixão que é a borda, o limite da sociedade, da cidade e da humanidade, nos hospitais psiquiátricos, nos valores trocados, na hipocrisia, descaso, canalhice, mentira.

Estamira está em todos os cantos, em todos nós e todos precisam de Estamira. Não sei de todos, mas eu preciso.

Monday, July 24, 2006

O enigma de Dunga

Contrariando as expectativas, Dunga foi anunciado hoje como o novo técnico do escrete canarinho. Será a primeira experiência como treinador deste gaúcho de Ijuí, de 42 anos. Beckenbauer nunca havia sido treinador e foi vice em 86 e campeão em 90. Klinsmann também não e foi 3º em 2006. Falcão, por outro lado, não foi bem e caiu bem antes de chegar ao mundial.
Dunga começou sua carreira em 1981, no Internacional de Porto Alegre, nas categorias de base. Foi campeão mundial junior em 1983. Passou por Corinthians, Santos, Vasco, Pisa, Fiorentina, Pescara, Stuttgart Jubilo Iwata e pendurou as chuteiras onde começou, no Inter, em 1999.
Dunga sempre foi líder por onde passou. Em 90, liderou o mais medíocre dos selecionados brasileiros (ao menos até o advento do fracasso de 2006), sob o comando do incompetente Lazaroni. A derrota para a Argentina na Itália marcou toda uma geração, que foi açoitada pela torcida e pela imprensa e que ficou negativamente marcada como a "Era Dunga", o sepulcro do futebol arte.
Mas Dunga, bravo guerreiro, não se deixou abater pelas críticas. Deu a volta por cima e foi campeão em 94, com Barreira. Jogando feio, o Brasil foi campeão na loteria dos pênaltis e Dunga, uma vez mais, foi o símbolo, desta feita da conquista do título após 24 anos de jejum. Como capitão do time, ergueu o caneco e fez questão de xingar os jornalistas brasileiros que se encontravam nas proximidades, em retaliação às críticas recebidas no passado. Era o acerto de contas do capitão com a sua história e o seu passado.
Mas Dunga ainda teve forças para disputar mais uma copa, a de 98. Em um dos treinos preparatórios, passou uma descompostura em Zagalo, que queria encerrar prematuramente o coletivo para que os jogadores pudessem participar de um evento de marketing da Nike, fornecedora do material esportivo usado pela seleção. Dunga queria treinar, mas o compromisso comercial era mais importante. Resultado: perdemos a copa. Dunga não era bem visto por parte do grupo que não suportava seu estilo agressivo. Ele chegou mesmo a agredir bebeto com uma cabeçada durante a partida contra Marrocos, ainda na primeira fase. Ao contrário de outros (daquele tempo e dos atuais também), foi humilde na derrota. "Jogamos apenas o suficiente para ser vice-campeões", declarou após a derrota por 3X0 contra a França.
Surge agora como esperança, como antídoto contra a apatia e a falta de vibração gagalo-barreiresca.
O diabo é que o homem que apresentou Dunga como novo técnico (e que aparece ao seu lado na foto acima) é o mesmo que comanda a CBF desde Lazaroni. É o mesmo que impôs o espírito gagalo-barreirista nas copas de 94, 98 e 2006 (Felipão 2002 foi um acidente de percurso, uma exceção que confirma a regra geral). É o mesmo que assinou com a Nike e vendeu nossa seleção para os interesses comerciais da propaganda e marketing. É o mesmo que se omitiu durante toda a campanha na Alemanha e que não foi capaz de sequer esboçar uma tentativa de explicação do vexame. É o mesmo que contribuiu para a draga em que se encontram os clubes nacionais (apesar da riqueza dos cartolas). Ricardo Teixeira, hoje, é um homem que vive nas sombras. Levou junto a alegria do futebol brasileiro. Vivemos o círculo vicioso do futebol mal jogado, de clubes falidos, de campeonatos deficitários e de dirigentes muito bem sucedidos (a começar por ele mesmo). Teixeira criou o eixo do mal do jogo defensivo, da covardia tática, da desorganização planejada.
Conseguirá Dunga exorcizar o Darth Vader da bola que impede o surgimento da magia brazuca? Ou será ele tragado pela treva eterna da "Era Ricardo Teixeira"? Ou renasce o (bom) futebol brasileiro ou Dunga será sepultado como técnico antes mesmo de nascer.
A ver.

Wednesday, July 12, 2006

O jogo do Zidane

No link abaixo, é possível fazer o Zidane cabecear o peito de vários Materazzis. Confira


http://www.corriere.it/Primo_Piano/Sport/2006/07_Luglio/10/pop_zidane.shtml

Sunday, July 09, 2006

Ave Lippi, L'Imperatore del calcio


A Itália comandada por Marcelo Lippi é campeã da Copa de 2006 com méritos. Bateu os franceses nos penaltis (foi a quinta vez que a Itália enfrentou a disputa de penaltis em Copas, a segunda na final e a primeira vez que vence). A Itália foi melhor o jogo todo e poderia ter vencido no tempo regulamentar. A forte marcação italiana anulou a França, que foi beneficiada por um penalti inexistente marcado pelo árbitro argentino Elizondo (que foi mal, deixou de marcar um penalti existente a favor da França e deu dois amarelos para o francês Diarra) logo no incício do jogo. O zagueiro artilheiro Materazzi (o símbolo da conquista italiana) empatou de cabeça em escanteio cobrado por Pirlo (um replay do gol feito contra os EUA na 1ª fase) e a Itália poderia ter feito mais um, em cabeceio de Luca Toni, mas os deuses da bola e o travessão não deixaram. No segundo tempo, Luca Toni cabeceou para as redes de Barthez, mas o juiz corretamente assinalou impedimento. Na loteria dos penaltis, Trezeguet falhou, acertando o travessão. Travessão que teve papel decisivo na final da Copa: o penalti de Zidane beijou o travessão antes de entrar; o golpe de cabeça de Toni atingiu a baliza superior e impediu a virada italiana; e, no fim, o artilheiro Trezeguet (que na Euro 2000 fora o carrasco italiano com um gol de ouro) acertou a moldura e fez a França chorar e a Itália comemorar.
A Itália agora possui 4 títulos mundiais, o primeiro ganho na disputa dos penaltis (em 94 a Itália perdeu pro Brasil nos penaltis). Os franceses conquistatam o vice-campeonato pela primeira vez. Pela primeira vez sentiram o gosto amargo de uma derrota em final de Copa (os italianos já haviam perdido as finais de 70 e 94, ambas para o Brasil). Domenech (que tem nome de conhaque, não de técnico) disse após o jogo que o resultado foi injusto e a França merecia ganhar. Perdeu porque foi arrogante. Porque achou que poderia ganhar a qualquer momento. O vírus da empáfia brasileira contagiu os franceses.
Marcelo Lippi coroou sua já consagrada carreira com classe e sabedoria. Soube tirar o melhor do elenco que levou à Copa (usou todos os jogadores, à exceção dos 2 goleiros reservas). Soube comandar o grupo e levá-lo ao título, apesar do gravíssimo momento vivido pelo futebol italiano, abalado por denúncia de corrupção que envolve os principais times e dirigentes (inclusive o filho de Lippi, que é manager de jogadores italianos). Lippi provou que técnico ganha jogo. Fez inúmeras mudanças no time, enfrentou situações dificílimas como a expulsão de De Rossi e a contusão de Nesta, no lugar de quem entrou Marco Materazzi, zagueiro truculento e açougueiro nas horas vagas, que fez uma Copa brilhante, marcando 2 gols, um deles na final. O destaque do time italiano é a defesa, com: Gigi Buffon em explêndida forma, seguro, elástico; Zambrotta firme na marcação e incisivo no apoio; Fábio Cannavaro, o melhor zagueiro da Copa, impecável, preciso, cirúrgico, o rei das antecipações, o centurião romano que liderou com elegância um exército de bravos e provou que zagueiro também pode jogar bonito; Materazzi, o gladiador artilheiro (que além do gol no tempo normal, converteu em gol a cobrançade penalti); e Grosso, que de grosso não tem nada, teve participação decisiva na campanha vitoriosa, especialmente nos jogos contra Austrália (sofreu o penalti, que Totti converteu, dando a vítória aos italianos por 1x0) e Alemanha (fez o primeiro gol contra a Alemanha no final da prorrogação) e na final (fez uma boa partida e converteu um dos penaltis italianos). Merecem destaque ainda Gattuso (um Amaral melhorado) e Pirlo, um meio-campista que sabe marcar e armar o jogo, além de bater bem na bola. Os atacantes italianos não empolgaram, deram pro gasto e nada mais.
Marcelo Lippi é o Julius Ceasar do futebol. Hoje ele conquistou sua coroa de louros em Berlim e devolveu a Roma o triunfo e a glória perdidos. Ao menos pelos próximos 4 anos.
Ave Lippi, quid morituri te salutant!

O Triste Fim de Zidane Quaresma



Foi melancólica a despedida de Zidane do futebol. Após um início fraco, Zizou cresceu durante a Copa e fez uma exibição de gala contra o Brasil. Na final contra a Itália, teve uma atuação discreta. Bateu o panalti (inexistente, diga-se, embora outro penalti, esse existente, não tenha sido marcado a favor da França) com uma mistura de ousadia e displicência e fez o gol, contando com a ajuda dos deuses da bola (os mesmos deuses da bola que cobraram a fatura logo depois, no penalti desperdiçado por Trezeguet que deu a Copa aos italianos). Perdeu a cabeça e transformou-se em um gnu, golpeando o peito do aturdido Materazzi, em uma completa inversão de valores que simboliza a Copa 2006: o violento (e matador) Materazzi foi vítima da violência do talentoso Zidane. A marcação venceu o drible. Zidane perdeu a elegância e foi expulso no segundo tempo da prorrogação, prenunciando o debacle francês. Triste fim de um craque que se agigantou e se superou em sua última Copa, que parecia predestinado a brilhar novamente. Uma estranha alquimia transformou a chama em fogo-fátuo.

Saturday, July 08, 2006

Verde ou Azul?

O Mapa Mundi da Bola

Thursday, July 06, 2006

Ciência Oculta

O mundo da bola se divide entre América do Sul e Europa. Os sul-americanos têm 9 títulos mundiais (Brasil 5, Argentina e Uruguai 2 cada). Os europeus tinham 8 (Alemanha e Itália 3, Inglaterra e França 1 cada). Sendo certo que o campeão de 2006 será um europeu (Itália ou França), os europeus também passarão a ter 9 títulos.
Desde 1950, Brasil ou Alemanha estão nas finais de Copa do Mundo, à exceção de 1978 e 2006. Antes, em 30 (no Uruguai), em 34 (na Itália) e em 38 (na França), a Copa do Mundo ainda não adquirira o abrangente e globalizado caráter planetário que hoje possui.
O Brasil chegou à final 6 vezes: em 50 (Brasil), em 58 (Suécia), 62 (Chile), 70 (México), 94 (EUA), 98 (França) e 2002 (Japão/Coréia do Sul), perdendo para o Uruguai em 50 (no Brasil) e para a França em 98 (a equipe da casa), ganhando as demais. É o único pais que ganhou Copas fora de seu continente (58 e 2002).
A Alemanha chegou à final em 7 oportunidades: em 54 (Suíça), 66 (Inglaterra), 74 (Alemanha), 82 (Espanha), 86 (México), 90 (Itália) e 2002 (Japão/Coréia do Sul). Ganhou em 54, na Suíça, em 74, em casa e em 90, na Itália.
A Itália chegou à final em 6 oportunidades: 34 (Itália), 38 (França), 70 (México), 82 (Espanha), 94 (EUA) e 2006 (Alemanha). Ganhou em casa em 34, na França em 38 e na Espanha em 82.
Dos grandes, só o Brasil chegou à final em casa e perdeu. Itália, Alemanha e França ganharam quando chegaram à final, em 34, 74 e 98, respectivamente. Esses países e também o México (que nunca ganhou), já sediaram a Copa por 2 vezes (em 38 a França em casa perdeu nas quartas para a Itália, em 90 a Itália perdeu pra Argentina nas semi-finais e agora em 2006 a Alemanha nas semi-finais também perdeu para a Azurra). O Uruguai e a Argentina ganharam quando foram sedes da Copa (30 e 78) e também uma segunda vez, sempre no continente americano (50 no Brasil e 86 no México). A Inglaterra venceu a Copa em 66, quando a sediou.
Pergunta que não quer calar: se Brasil, Argentina, Uruguai e Inglaterra vierem a sediar novamente a Copa, o Brasil vai ganhar em casa e Argentina, Uruguai e Inglaterra perderão (porque o Brasil já perdeu em casa e Argentina, Uruguai e Inglaterra ganharam)?
Resposta: Não. O futebol é uma ciência oculta.
Em 38 a Itália tirou a França e sagrou-se campeã em Paris. Em 90 a Alemanha aproveitou o tropeço da Itália para abocanhar a Copa em Roma. Em 2006, a Itália, que eliminou os alemães (a Itália nunca perdeu pra Alemanha em Copas e a Alemanha nunca havia perdido em Dortmund até então), será campeã na Alemanha, como a Alemanha foi campeã na Itália em 90? Ou a França de 2006 abiscoitará o título em Berlim e dará o troco na Itália pela desclassificação em 38?
Elas por elas. Qualquer que seja o resultado.

Coréia Japão2002 França1998 EUA1994 Itália1990 México1986 Espanha1982 Argentina1978 Alemanha1974 México1970 Inglaterra1966 Chile1962 Suécia1958 Suíça1954 Brasil1950 França1938 Itália1934 Uruguai1930

A Alemanha caiu de pé, Portugal também, a Argentina idem. Já o Brasil...








Itália e França farão a final da Copa no próximo domingo em Berlim. Na mais emocionante partida da Copa, os italianos fizeram 2 gols nos últimos minutos da prorrogação, frustrando a equipe da casa. Os alemães agora também têm o seu maracanazo.
Após o jogo, o treinador Alemão Jürgen Klinsmann demonstrava serenidade e sentimento de dever cumprido, apesar da tristeza. Não apelou para desculpas ridículas, nem tentou distorcer a realidade óbvia. Klinsmann fez um bom trabalho: pegou um time desacreditado, conseguiu unir jogadores e torcida e no fim teve reconhecido seu esforço. A Alemanha caiu de pé, tanto que a torcida alemã aplaudiu técnico e jogadores ao final da partida, homenageando a garra e brio demonstrados ao longo da Copa. Imprensa e torcida alemãs querem a permanência de Klinsmann, mesmo depois da derrota.
Felipão teve um ótimo desempenho com uma equipe mediana. O estilo guerreiro de Scolari levou Portugal à semi-final e a França teve mais dificuldade com nossos patrícios lusos do que com o sonolento, desinteressado e desconcentrado escrete canarinho. Big Phil não teve a empáfia e a soberba de Barreira e Zidane recebeu implacável marcação. Perdeu para a França, mas credenciou-se como um dos melhores técnicos do mundo na atualidade, ao lado de Lippi, Klinsmann e Domenech. Todos eles, ao seu modo, souberam motivar suas equipes, dar-lhes padrão de jogo, construir um jogo coletivo, solidário, capaz de sobreviver em uma Copa de poucos gols, de muita marcação, de pouquíssimos espaços, de muitos choques, de toques rápidos, de raros talentos, de muitas faltas. de bons goleiros e bons zagueiros.
Na Argentina, aconteceu algo inusual: ao voltar para casa após a desclassificação nas quartas, a delegação foi recebida com carinho pela torcida e muitos defendem a permanência de Pekerman, certamente em razão da boa campanha argentina na Alemanha, marcada por momentos de ótimo futebol e muita disposição e vontade. Perder nos penaltis para a equipe da casa não é demérito.
Já a seleção brasileira, quanto contraste... Futebol bisonho. Solidariedade zero. Ofensividade nenhuma. Explicações mirabolantes, absoluta ausência de auto-crítica, completo alheamento da realidade. Não surpreende a diferença. Nem a reação da torcida, nem a da imprensa.
Tudo se esperava do bruxo Barreira. Menos perder jogando tão mal, tão feio. Deu xabu. O feitiço virou-se contra o feiticeiro. Eu não creio em bruxas. Menos ainda em barreiras.
Em 82, pelo menos perdemos jogando bonito. Em 94 ganhamos (graças a Romário) jogando feio (graças a Parreira). Perder jogando tão feio e tão mal como agora dá a impressão de que estamos involuindo, estamos andando para trás. É preciso mudar. Radicalmente. Rapidamente.

O time do Barreira...

Monday, July 03, 2006

Vade retro, Barreira!

Passada a ressaca moral, as idéias e conceitos a respeito da participação brasileira na Copa, em especial o papel desempenhado pelo coach Mr. Barreira, vão sendo decantados, permitindo uma melhor compreensão do que se passou. Tinha para mim até antes de começar a Copa que a seleção brasileira de 90 havia sido a mais medíocre que minha geração (nascida a partir de 70) havia visto. Mudei de opinião. A selecinha do Barreira de 2006 conseguiu ser mais medíocre do que a do Lazaroni.
Barreira conseguiu algo que era inconcebível: fez, de um punhado de craques, uma equipe pobre, desorganizada, sem alma. Tantas e tamanhas potencialidades desperdiçadas nas mãos de alguém incapaz de transformá-las em time, em equipe, em jogo coordenado, em futebol solidário e eficaz (nem precisava fantasia, arte ou mesmo mágica quadrada).
Barreira foi incapaz. Foi não, é incapaz. E o título de 94, obtido a custa de um futebol feio e da sorte grande na loteria dos penaltis é a prova viva, reconfirmada pela tragédia do Waldstadiun, ponto culminante da trágica campanha de 2006.
Barreira foi incapaz de formar uma equipe vencedora, apesar de ser autor da consagrada obra "Como formar equipes vencedoras" (mostrou-se ghost writer também como técnico). Foi incapaz de dar padrão de jogo ao time (foi covarde para fazer substituições e quando as fez, retardou-as de modo a torná-las inócuas). Foi incapaz de fazer um único e mísero coletivo ao longo de toda a preparação para a Copa (só "treino alemão", usando a metade do campo). Foi incapaz de dar ao time um preparo físico decente (a equipe mostrou-se sem força física em todos os jogos, especialmente nos dois últimos), logo ele, que é professor de educação física e começou sua carreira como preparador físico. Foi incapaz de unir o grupo, que se dispersou em egotrips e busca de recordes pessoais (Barreira, inclusive, fez questão de lembrar que ele é o técnico que mais dirigiu o Brasil em Copas). Foi incapaz de se impor como o Grande Timoneiro que todo técnico precisa ser (vide Felipão). Foi incapaz de barrar Cafu (que fez a pior partida de sua carreira contra a França nesta Copa, fez a falta que redundou no gol francês e cujo reserva estava gastando a bola, no auge da forma) e Roberto Carlos (cuja inexplicável e patética lassidão permitiu que Henry tivesse toda a tranquilidade para golpear a bola com classe e estilo únicos e sair pro abraço, coroando, assim, sua ridícula atuação na Copa e, queiram os deuses, pontofinalizando sua participação no escrete canarinho). Foi incapaz de fazer o time vibrar (ao contrário de Felipão). Foi incapaz de fazer o time jogar bem (nem precisava dar espetáculo). Foi incapaz de dar brios ao time (mas deu apatia, soberba, presunção, arrogância). Foi incapaz, mesmo após a vergonhosa derrota e a ordinária campanha, de reconhecer o desastroso fracasso ("perdemos apenas 1 partida"!?; "o gol da França saiu de uma jogada de bola parada"!???). Foi incapaz de, com dignidade, pedir demissão porque falhou em sua missão (ao contrário de Pekerman), mesmo sendo público e notório que ele já foi demitido.
Acabou a Era Barreira, RIP. Já vai tarde. Muito tarde.

Saturday, July 01, 2006

Zidane, o verdugo ou recordar é morrer

O Brasil caiu em Frankfurt. Melhor dizendo, foi atropelado. De novo, repetindo 98, a França dominou o jogo e venceu com justiça. Zidane liderou os azuis e mostrou que, a despeito da idade, é um craque. Barreira tomou um nó tático e não foi capaz de transformar um elenco com grandes individualidades em uma equipe minimamente competitiva. Barreira não tinha o grupo na mão (como Felipão tinha em 2002). Ficou evidente que os jogadores perseguiam vantagens pessoais acima de tudo e não havia espírito de equipe. Ronaldo 16 toneladas se transformou no maior artilheiro das Copas. Cafu é o brasileiro com maior número de jogos em Copas. Lúcio (que jogou uma grande Copa) bateu o recorde de Gamarra e é o zagueiro que passou o maior tempo em campo sem cometer falta. E o Brasil voltou pra casa mais cedo. A leitura labial mostrou que Barreira não tinha peito pra fazer as mudanças necessárias no escrete. Barreira sempre conviveu mal com o fantasma de 82 e dizia que futebol bonito não ganha jogo. A derrota de hoje mostrou que Barreira estava errado. Perdeu jogando feio. É uma pena. Poderia ter sido diferente. O mais triste é que, ao contrário de 82, hoje a derrota não deixou qualquer dúvida. Perdemos porque nosso time foi medíocre a Copa toda (sem descurar de que a França foi muito superior). De todo modo, tudo tem um lado bom (exceto os discos do Osvaldo Montenegro). Acabou a geração marketing do futebol brasileiro, uma geração que mercantilizou a paixão nacional e que privilegiou interesses particulares em detrimento do coletivo. A seleção popstar morreu, jogando um futebol coadjuvante. O triste fim possui uma síntese: o patético Roberto Carlos, que, a despeito do futebol pífio e da máscara gigantesca, preferiu ajeitar a chuteira a perseguir Henry, que fez o gol completamente sozinho na pequena área brasileira. Não se pode, contudo, crucificar apenas um. Futebol é association. Tem que ir todo mundo pra cruz, do 1 ao 11, passando pelo Barreira, pelo Gagalo e pelo chefe da quadrilha. Só nos resta lamentar e deplorar. E torcer para que um dia o Brasil volte a jogar o verdadeiro futebol brasileiro. Barreira conseguiu o que parecia impossível: abastardou nosso estilo de jogo. É preciso resgatar nosso futebol dos Barreiras. A fantasia do futebol arte hoje só existe nas nossas memórias passadas (viva a seleção de 82 do Mestre Telê!). E nas campanhas publicitárias. Pena que a Copa não é uma propaganda da Nike. Só lá os brazukas jogam bonito...